Nova casa
Caingangues se acostumam aos poucos com vida na Cascata
Para o cacique Pedro Salvador, a qualidade de vida avançou muito e, com os planos que o grupo tem para o terreno, deve avançar ainda mais
Das dificuldades que trouxeram os 53 caingangues de Santa Catarina a Pelotas e daquelas as quais o grupo enfrentou durante oito meses até ser adequadamente instalado no município, muito foi resolvido. Há mais segurança, mais conforto, água potável e eletricidade. Problemas, é claro, ainda existem. Mas a avaliação da mudança, que completou um mês na última quinta-feira, dia no qual a comunidade recebeu da prefeitura a transferência oficial da área através de um decreto, na voz dos indígenas, é majoritariamente positiva.
Agradecimentos também não faltam. Ao Poder Público, à população que doou roupas e alimentos e àqueles que se mobilizaram para a saída do grupo das margens da avenida Presidente João Goulart, próximo à Rodoviária. Desde então, no novo local do acampamento, o ritmo é de adaptação entre as 16 famílias. Para o cacique Pedro Salvador, a qualidade de vida avançou muito e, com os planos que o grupo tem para o terreno, deve avançar ainda mais. O aproveitamento da terra para o plantio de hortaliças e do espaço para o cultivo das tradições da tribo deve ser posto em prática em seguida.
A fala do cacique, reforçada pela de seu irmão Alcir, vai além dos agradecimentos. Problemas de locomoção, acesso à saúde e dificuldade na comercialização do artesanato - principal fonte de renda do grupo - também estão presentes em um discurso que assume tom apreensivo. Para a comercialização das peças, os indígenas têm se deslocado para o centro de Pelotas e outros ainda para Rio Grande. A necessidade de um ponto de venda é, segundo o cacique, a demanda mais urgente atualmente. As viagens de ônibus também pesam no bolso já fragilizado. “Com a mudança, o medo da falta de segurança foi resolvido, mas também foi substituído pelo medo do esquecimento”, diz o cacique por considerar que o grupo está distante dos olhos da população.
A esperança, no entanto, não falta. Por considerar este ainda um momento de adaptação, o cacique crê que com o apoio e a contínua assistência da prefeitura será possível solucionar os impasses. O desejo é por um ponto central para a comercialização do artesanato, ou mesmo o antigo local do acampamento, hoje ocupado por indígenas de uma outra tribo. Segundo o secretário de Justiça Social e Segurança (SJSS), Luiz Eduardo Longaray, o grupo chegou de Itá e já foi notificado a se retirar, podendo ter como destino até mesmo a área cedida aos caingangues. As negociações estão em andamento.
O novo dia a dia
Atualmente o acampamento dos caingangues conta com o suporte de uma uma casa que já pertencia ao terreno e uma caixa d’água de cinco mil litros - a qual consideram não ser o suficiente para o grupo de 53 pessoas, sendo necessário economizar o recurso que é abastecido por um caminhão-pipa.
As crianças têm acesso à educação na Escola Garibaldi, localizada na Colônia Maciel. Já os adolescentes que deverão fazer EJA estão no aguardo de vagas e também de uma forma de transportá-los, já que os estudos seriam realizados no centro da cidade. Quanto à saúde, os serviços são buscados na Cascata. De acordo com o anúncio do prefeito Eduardo Leite (PSDB) e da vice-prefeita Paula Mascarenhas (PSDB), feito na comunidade na última quinta-feira, uma equipe da Unidade Básica de Saúde (UBS) da Cascata deverá atender a comunidade indígena nas próprias terras, uma vez por semana, e os serviços do Samu estarão disponíveis.
De acordo com Longaray, o suporte da SJSS deverá ocorrer até que o processo de adaptação do grupo esteja concluído. A secretaria forneceu colchões, água e cobertores, além da disponibilização do trabalho de uma assistente social para acompanhar o processo. Além disto, aqueles que possuíam documentos foram cadastrados no programa Bolsa Família.
Meses atrás
Naturais de Chapecó, os índios caingangues chegaram a Pelotas vindos da aldeia Condá. Motivados por uma melhor qualidade de vida, principalmente no que diz respeito à assistência médica e à educação para as crianças. Antes de serem deslocados para a Cascata passaram cerca de oito meses em um acampamento improvisado e sem estruturas, dependendo em parte do prédio da Rodoviária para atividades básicas.
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